Quarta-feira, 30 de Outubro de 2024

Home Ali Klemt Relaxa, você não precisa ter opinião sobre tudo

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Mais alguém aí se sentindo completamente estafado com o excesso de informação dos dias atuais? Totalmente esgotado com o extremismo das manifestações e com a constante percepção de que todo mundo parece ter opinião sobre tudo? Ou pior ainda: se você não formou seu juízo sobre algum assunto, você está “em cima do muro” – e isso parece quase um pecado mortal.

Fico surpresa, verdadeiramente, com o incrível apego das pessoas às suas opiniões. Com a necessidade que se tem de sempre “dar o pitaco” em qualquer assunto. Na vida alheia. Na política internacional. No sistema carcerário. No Prêmio Nobel de Física. No casamento dos vizinhos. Na reprodução dos moluscos invertebrados da Indonésia.

Sério que você tem opinião sobre a reprodução dos moluscos invertebrados da Indonésia?

Bem, para situações tais, eu sou a solução dos seus problemas! Ou pelo menos tentarei proporcionar um alívio temporário (nem que seja durante a leitura desta coluna). E para que você dê fé em quem vos fala, já entregarei a conclusão logo de início: relaxa, você não precisa ter opinião sobre tudo. Mesmo.

Nos últimos anos, muito por conta da minha exposição nas mídias, decidi que só me manifesto sobre um tema quando tenho convicção sobre o que estou dizendo. Veja: convicção não significa certeza – até porque por certo só há a morte. A minha premissa é: “eu vou defender esse argumento com unhas e dentes? Eu realmente acredito no que estou dizendo?”. Se a resposta for afirmativa, vale a pena expressá-la, pois estarei tranquila em relação às críticas e às oposições – porque elas virão. E isso é bom, porque pode até acontecer de eu mudar de opinião se os argumentos contrários forem sólidos, razoáveis, coerentes. É isto um debate: um modelo de contestação baseado na argumentação, no qual ideias conflitantes são defendidas ou criticadas com base em – adivinha? – argumentos. E o que, afinal, é um argumento? É uma prova ou um raciocínio lógico. Não uma opinião.

Tenho para mim o ensinamento de Raul Seixas e “prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Assim caminha a humanidade: aprendendo, tropeçando, mas seguindo em frente. E são esses passos que nos fazem evoluir.

Se estamos falando em evolução, como, então, uma das grandes frases replicadas ao longo dos séculos, do célebre filósofo Sócrates, ficou tão fora de moda? “Só sei que nada sei” deveria ser quase um mantra: sim, você pensa, você pesquisa, você estuda, você reúne inúmeros conhecimentos e experiências ao longo da vida, você até chega a conclusões científicas e ganha prêmios por isso, mas, ao fim e ao cabo, nada é 100% certo. A consciência da própria ignorância diante de todos os mistérios do mundo, diante de todos os prismas das personalidades humanas, diante de todas as possibilidades do nosso intelecto é nada mais, nada menos que uma constatação óbvia. Nós não sabemos de tudo. E mesmo que saibamos, tudo pode mudar.

Aceitar que não sabemos tudo é libertador. É abraçar o óbvio e ainda dar beijinhos com chamego em si mesmo. Porque é absolutamente impossível conhecer todas as nuances de todos os assuntos. Entender diferentemente nos atira em uma busca desenfreada por estar sempre a par de todos os acontecimentos, acompanhando notícias, redes sociais, fofoca de celebridades, estudos acadêmicos – afinal, a informação nunca esteve tão acessível.

Mas aí você me diz: “ah, Ali, mas eu posso ter a minha opinião”. Claro que pode. Você pode ter a sua opinião sobre tudo. Você pode até mesmo expressá-la (desde que nos limites da legalidade). Isso é liberdade. Eu só estou sendo muito simplista: você pode, mas você não precisa.

Saia fora do círculo vicioso do pitaco apenas pelo pitaco. Nossas avós já sabiamente diziam: Deus nos deu 2 ouvidos e apenas 1 boca. Escute mais, leia mais, contemple mais. Deixe fluir as informações que passam pelos seus olhos, pela sua mente, pelos seus sentidos em geral. Se algo efetivamente fizer sentido para você, ok. Se não, apenas assuma a Elsa que existe dentro de você e grite (ainda que internamente): “let it go!”. E deixe estar.

Relacionamentos se desgastam por opiniões em excesso. Famílias se desmembram por opiniões em excesso. O tempo e a energia que se gasta tentando defender questões irrelevantes para as nossas próprias não compensam a satisfação de se manifestar sobre algo que simplesmente não tem impacto na sua vida ou nos seus valores pessoais.

Até porque, ao final do dia, você prefere estar sempre certo ou ser feliz?

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