Quinta-feira, 28 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 16 de dezembro de 2023
Morreu na madrugada desse sábado (16), aos 90 anos, o cantor e compositor Carlos Lyra, ícone da bossa nova. Autor de composições como “Maria Ninguém” e “Lobo Bobo”, que viraram clássicos em gravação de João Gilberto, ele foi um dos principais nomes do movimento musical. A morte foi confirmada por sua esposa, Magda.
Lyra estava internado no Rio de Janeito desde a última quinta (14) , com quadro de febre. No dia seguinte, uma infecção piorou o seu estado de saúde. A causa da morte não foi confirmada. O velório será neste domingo (16) para familiares e amigos. O corpo do compositor será cremado.
Vida e obra
Tom Jobim disse certa vez que Carlos Lyra era o “maior melodista do Brasil”. A história é contada por pelo compositor Roberto Menescal, colega de escola de Lyra. Mais tarde, Jobim aprofundaria o elogio em um texto dedicado ao amigo: “Lyrista e lyricista, romântico de derramada ternura, nunca piegas, lacrimoso, açucarado. Formidável compositor”, registrou Jobim.
“Carlos foi o mais reconhecido e gravado da nossa turma. Ele se dedicou, principalmente, a compor”, diz Menescal, chamando de “turma” os que orbitavam em torno de Tom Jobim e João Gilberto na bossa nova, cada um desenvolvendo seu estilo.
Nascido no Rio, em 1933, Lyra começou a fazer música com um piano de brinquedo aos sete anos de idade. Adolescente, conheceu Roberto Menescal, outra futura lenda da bossa nova, com quem montou a Academia de Violão, uma espécie de academia musical. Por lá passaram nomes como Marcos Valle, Edu Lobo, Nara Leão e Wanda Sá, entre outros.
A sede do grupo era um quarto-e-sala na rua Sá Ferreira, em Copacabana. Foi cedida por um amigo de Lyra, que usava o imóvel como garçonnière. A academia foi encerrada após a mãe de uma aluna encontrar um preservativo usado no sofá.
O compositor passou a frequentar as reuniões no apartamento da aluna de sua academia de violão Nara Leão, onde nasceram as primeiras canções da bossa nova.
O reconhecimento do público veio com “Menino”, composição gravada em disco em 1956 na voz de Sylvia Telles. Outras composições marcantes são “Coisa mais linda”, “Minha namorada”, “Primavera”, “Sabe você”, “Você e eu”, todas consideradas clássicos da bossa nova.
Em 1957, Lyra participou do primeiro show com o pessoal da Bossa Nova, no Grupo Universitário Hebraica. Em 1959, João Gilberto inclui canções dele no LP “Chega de saudade”: “Maria Ninguém”, “Lobo bobo” e “Saudades dez um samba” (essas duas últimas foram compostas em parceira com Ronaldo Bôscoli). Priorizando seu dom para a composição, como bem lembrou Menescal, Lyra assinou seis música nos três históricos primeiros discos de João Gilberto (de 1959, 60 e 61).
Lyra também participou de festivais universitários e, em 1961, participou da fundação do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), que teve enorme influência no início dos anos 1960, antes do golpe militar de 1964. Lá, apresentou compositores popular jovens da Zona Sul carioca, como Nara Leão.
Parcerias
Aos 25 anos de idade, Carlos Lyra pegou o telefone e ligou para o poeta Vinicius de Moraes propondo parcerias. Ficaram amigos e fizeram mais de 20 canções juntos, incluindo a trilha sonora do espetáculo “Pobre menina rica” (1962).
Vinicius de Moraes se referia ao trio Carlos Lyra, Baden Powell e Tom Jobim como “Santíssima Trindade”. Na letra de “Samba da benção”, Vinicius imortalizou Lyra com os versos “A bênção, Carlinhos Lyra, parceirinho cem por cento, você que une ação ao pensamento e ao sentimento”.
“Somos todos galhos que nascemos do tronco do Tom (Jobim)”, afirma a cantora Joyce. “Mas Carlos é muito forte, fundamental, porque estava próximo dele, é um irmão mais novo do Tom. Não foi ofuscado. Suas melodias são sinuosas, cheias de detalhes.”
Repercussão
Gilberto Gil lamentou a morte do compositor. “Tristes com a notícia da partida de Carlos Lyra, que nos deixa aos seus 90 anos com um legado extraordinário. Um forte abraço em toda a família e amigos. Vídeo de “Saudade fez um Samba”, de Carlinhos e Boscoli, interpretada na última quinta-feira na Academia Brasileira de Letras”, escreveu o cantor.
Além do cantor, a deputada Jandira Feghali lamentou a morte de Lyra. “O Brasil amanheceu menos musical hoje. Carlos Lyra nos deixou nesta madrugada. O compositor foi um dos artífices da Bossa Nova e um entusiasta e divulgador de artistas como Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Kéti. Fez música para teatro e cinema e aplicou consciência social em diversas de suas canções. Seu nome está escrito na história da Música Popular Brasileira, eternizada em clássicos como “Você e Eu”, “Coisa mais Linda”, “Influência do Jazz”, “Maria Moita” e tantas outras. Obrigado por tanto, Carlinhos. Meus sentimentos aos familiares, amigos e fãs”, escreveu.
Na publicação oficial do perfil de Carlos Lyra nas redes, outros amigos e famosos lamentaram a morte do artista. Lúcio Mauro Filho deixou um recado: “Segue em paz, mestre amado”. Já o comediante Rafael Cortez se referiu a Lyra como “lenda em vida”.
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