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Por Redação Rádio Pampa | 9 de abril de 2022
Identificar e compreender a disfunção sexual feminina (conhecida popularmente como impotência) pode parecer simples à primeira vista.
Afinal, talvez bastasse a mulher se perguntar, por exemplo, se está satisfeita com a quantidade de vezes que deseja ou sente prazer ou dor no ato sexual consigo mesma ou acompanhada.
Mas tudo fica complicado se a resposta é não, e ela se pergunta: por que não?
Quatro em cada 10 mulheres adultas são impactadas por falta ou dificuldades com desejo, orgasmo ou dor sexual de forma esporádica ou permanente, aponta uma estimativa comum entre especialistas. Mas muitas delas nem sabem que têm essa condição, ou quais são as causas e os possíveis tratamentos.
E nem que há um emaranhado de áreas envolvidas com a função e a disfunção sexual feminina, como ginecologia, psiquiatria, sexologia, psicologia, filosofia, sociologia, fisioterapia, educação sexual, cultura e antropologia.
Quando um ou mais fatores ligados a essas áreas afetam a resposta sexual, esse processo pode desencadear a disfunção.
Há dois mecanismos fundamentais por trás da função sexual.
“O aspecto da procriação e o aspecto prazeroso, que são interligados”, resumiu a ginecologista Lúcia Alves Lara, presidente da Comissão Nacional Especializada em Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
E ao longo da história, muitos pesquisadores tentaram entender e explicar como o aspecto prazeroso da função se traduz em resposta sexual no corpo feminino.
Entre os nomes que se destacam estão o do ginecologista William Master e da psicóloga Virginia Johnson, que investigaram nos anos 1960 as respostas fisiológicas e anatômicas da sexualidade feminina e masculina e depois pensaram em tratamentos psicoterapêuticos para disfunções sexuais.
Anos depois, a pesquisadora Helen Singer Kaplan acrescentou à formulação de Masters e Johnson a importância do desejo na resposta sexual, algo quase desconsiderado até então.
Mas foi somente em 2001 que um novo desenho de resposta sexual, mais especificamente do feminino, foi criado pela psiquiatra canadense Rosemary Basson. Agora havia também a fase da intimidade.
Ou seja, se antes ele tinha começo, meio e fim, como a resposta sexual masculina, no modelo de Basson passa a ser circular, no qual “a mulher mesmo sem ter desejo sexual, na presença de intimidade com a parceria dela, ao receber estímulo erótico, ela começa a se excitar, a ter desejo, e pode então entrar no compartilhamento sexual de relação sexual com a sua parceria, chegar a sentir uma excitação máxima, podendo ou não ter orgasmo”, explica Lara, da Febrasgo. Não se trata, portanto, apenas de estímulo visual ou sexual.
O ciclo de resposta sexual feminino envolve, segundo o consenso científico atual, intimidade emocional, neutralidade sexual, excitação sexual, desejo sexual espontâneo, desejo responsivo e excitação sexual e satisfação emocional e física.
Tudo isso ligado há basicamente três fases, que podem acontecer ao mesmo tempo: desejo, excitação e orgasmo.
E a disfunção, onde surge nesses ciclos e fases? Não há exatamente uma régua universal para medir o quê, quando e o quanto algo não está bem.
Então, esta condição começa a ser identificada pela própria mulher quando alguma alteração se torna sofrimento ou dificuldade.
Em geral, 52% das queixas sexuais das pacientes estão ligadas a fatores de origem psíquica e 48%, de ordem biológica, explica Lara.
Identificação
O baixo desejo sexual costuma ser a disfunção sexual feminina mais prevalente. E pode parecer fácil saber que algo na vida sexual está “errado”, mas nem tanto quando se busca entender o que está “errado” e por quê?
Tempo, frequência e nível de sofrimento ou de dificuldade também são importantes sinais no diagnóstico da disfunção sexual feminina. Há quanto tempo e com que frequência isso tudo ocorre? Vale lembrar que cada mulher identifica seus próprios sinais, e algo que leva ao sofrimento de uma não necessariamente levará ao de todas.
Alguns tratamentos podem até lidar com sintomas, mas o central nessas abordagens é identificar as causas e daí sim definir como a disfunção será tratada, num processo que envolve diversos profissionais, como médicos, psicólogos e fisioterapeutas.
Segundo especialistas, a disfunção sexual feminina é qualquer reclamação ou problema sexual geralmente decorrente do distúrbio de:
— desejo (transtorno do desejo sexual hipoativo)
— excitação (disfunção da excitação sexual feminina)
— orgasmo (disfunção do orgasmo feminino)
— dor (disfunção da dor genito-pélvica-feminina).
Causas
O profissional de saúde que cuida da função sexual humana é o sexologista, com área de atuação em sexologia na ginecologia ou na psiquiatria.
Para fazer os diagnósticos, esses especialistas avaliam a saúde e histórico da paciente durante a consulta, e podem realizar ou requisitar exames ou encaminhar o caso para outros especialistas.
Durante a consulta ginecológica pode ser avaliada também a possibilidade de outras doenças ginecológicas, infecções, corrimentos de repetição, endometriose (inflamação do tecido que reveste o útero), aderências pélvicas (que podem unir tecidos diferentes), doenças no colo do útero, fissuras e feridas, por exemplo.
Uma das principais causas de disfunção sexual feminina é o uso de medicamentos (como anticoncepcionais, antidepressivos, antipsicóticos e remédios para tratamento de tireoide ou para emagrecimento). “Os medicamentos mais relacionados com desejo sexual hipoativo e anorgasmia (dificuldade ou incapacidade de orgasmo), disfunção da excitação, são os psicoativos, entre eles os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), bastante utilizados na população em geral. Eles interferem muito na função sexual e podem reduzir o desejo sexual com muita frequência”, explica Lara.
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