Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 26 de janeiro de 2023
A Geração Z – nascida entre a segunda metade dos anos 90 até o início da década de 2010 – é a mais sóbria de todos os tempos. Dados de um estudo internacional do HBSC (grupo de estudos que analisa o comportamento de saúde em crianças em idade escolar), patrocinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mostram que os jovens e adolescentes estão bebendo menos do que nunca. No geral, apenas 8% bebem álcool toda semana, um terço dos que tinham a mesma idade em 2006. Além disso, 76% acreditam que tomar cinco ou seis drinques em um fim de semana pode causar “muitos problemas”.
Eles ficam sóbrios por motivos de saúde física e mental, e sem estigma: não é preciso ter sido viciado para querer ficar sem beber. Um estudo realizado no Reino Unido constatou que, entre os jovens de 16 a 25 anos, era considerado normal ser abstêmio: 26% não bebem álcool. Na geração Baby Boomers, aqueles com idades entre 57 e 77 anos hoje, apenas 15% poderiam se qualificar da mesma maneira.
Nos Estados Unidos, outro estudo, de 2020, constata que, entre os universitários, os que não bebem álcool cresceram de 20% para 28% em uma década. E dos que experimentam álcool, 27% só consomem uma vez por mês, e 25% uma vez por semana.
“De segunda a sexta, água com gás. Cerveja só no fim de semana”, diz Nuria B., de 21 anos.
Neurocientistas brasileiros: Novo estudo revela como cegos conseguem ‘ver’ sons e sensações com o cérebro
É assim que ela organizou sua agenda social. Uma demonstração de disciplina para reduzir o consumo de álcool. Alicia L., 26 anos, optou por uma estratégia minimalista: uma taça de vinho no jantar.
“Eu prolongo com a conversa e tomo cuidado para que o garçom não venha por trás para encher meu copo”, conta.
Quando não quer beber, Sophie, 25 anos, pede água com gás em um copo grosso de cristal, tipo uísque. “Bem gelado e com uma rodela de limão. Os rituais são importantes para o autoengano”, detalha.
Os jovens da Geração Z foram os primeiros, mas não os únicos, a aceitar desafios ou participar de streams para evitar o hábito de beber. Uma grande variedade de tendências desafios #alcoholfree e exercícios ajudam-nos a estar mais atentos ao álcool que consomem. Desativaram o piloto automático e contam cada dose como quem conta calorias (e, diga-se de passagem, são calorias). Eles não são abstêmios, mas alguns se autodenominam “mindful drinkers” (“bebedores conscientes”, em tradução livre do inglês). Outros, no entanto, dizem simplesmente que estão “se cuidando”.
A jornalista inglesa Rosamund Dean é considerada a criadora do termo mindful drinking (beber de forma consciente). Em 2017, publicou um livro no qual explicava suas estratégias para deixar de entender o consumo de álcool como um hábito e uma obrigação social. O livro, estruturado como um diário, descreve suas táticas para parar de beber por hábito. “Nunca pensei em desistir totalmente porque gosto de tomar um vinho no jantar ou uma taça de champanhe com os amigos”, esclarece no livro.
Para ela, o ponto de virada foi a maternidade. “Como não bebi durante a gravidez, pude perceber todo o dinheiro que gastava em vinho. Além disso, carregar ressaca é muito difícil com criança pequena”, escreveu na obra. Agora, antes de beber, a jornalista se pergunta: vou me lembrar deste vinho com alegria ou com arrependimento? Se for com alegria, siga em frente, se não for, pare.
Impactos da bebida na saúde
Uma pesquisa publicada no European Journal Of Public Health atribuiu ao consumo leve ou moderado de álcool quase 23 mil casos de câncer diagnosticados na Europa em 2017. Quase metade deles eram tumores de mama. O estudo é preciso com as quantidades e garante que mais de um terço dos cânceres atribuíveis ao consumo leve ou moderado de álcool afetaram pessoas que bebiam “menos de uma bebida padrão por dia”.
Mais um trabalho de 2021 publicado no The Lancet Oncology constata que o “consumo moderado”, por exemplo, menos de duas cervejas por dia, causa mais de 100 mil cânceres por ano. Mesmo o baixo consumo, menos de 10 gramas de álcool por dia, está relacionado a mais de 40 mil tumores.
O Fundo Internacional de Pesquisa do Câncer (WCRF, na sigla em inglês) adverte que “bebidas alcoólicas de todos os tipos têm um impacto semelhante no risco de câncer, sejam cervejas, vinhos, destilados ou qualquer outra fonte de álcool”. Além disso, a instituição aponta que “não há limite de consumo abaixo do qual o risco não aumente, pelo menos para alguns tipos de câncer”.
Um megaestudo que reúne 1.500 pesquisas compiladas pelo Instituto de Saúde Carlos III, na Espanha, também endossa a teoria do consumo zero e adverte contra a mensagem errada de consumo “responsável”. Estamos numa daquelas exceções à regra: com o álcool, a sabedoria não está no meio, nem na moderação, nem no equilíbrio. O consumo zero é a única estratégia saudável, mesmo que não seja a mais popular ou a mais divertida. A transgressão é não beber.
No Ar: Show de Notícias