Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 16 de janeiro de 2023
A sensação de que o dia não tem horas suficientes para fazer frente a todos os e-mails não lidos, resolver as pendências no trabalho ou se dedicar à família é algo corriqueiro. Soma-se a isso que, quando não estamos tentando dar conta dessas tarefas, pegamos nosso celular para ler algo online ou responder algum comentário nas redes sociais, em uma busca contínua por entretenimento.
Poucas pessoas pensam no tédio como uma opção válida. Mas, segundo neurocientistas, o tédio, mesmo com sua má reputação, pode aumentar nossa criatividade, nosso comprometimento com as tarefas e nossa produtividade no trabalho.
Um famoso experimento, publicado na revista Science, mostrou, inclusive, que existem pessoas que preferem levar um leve choque elétrico a ficar sozinhas com seus pensamentos.
No experimento, os pesquisadores pediram a um grupo de pessoas que se sentasse em silêncio por 15 minutos em um quarto sem nada para fazer. Como alternativa, sua única opção era apertar um botão e receber um choque elétrico.
Sofrer uma descarga elétrica é desagradável, mas muita gente, especialmente do sexo masculino, preferiu levar o choque a ser privada de estímulos sensoriais externos.
Dos 42 participantes, quase a metade decidiu apertar o botão pelo menos uma vez, mesmo já tendo levado o choque anteriormente. E um dos participantes chegou a receber o choque 190 vezes.
“A maioria das pessoas aparentemente prefere fazer qualquer coisa a não fazer nada, mesmo que seja algo negativo”, escreveram os pesquisadores no estudo.
Sempre ativo
O cérebro humano trabalha 24 horas por dia, 7 dias por semana. Mesmo quando estamos dormindo, o cérebro está sempre acordado. Ele escuta, detecta e gerencia os fatores de estresse para nos manter sãos e salvos. Fica procurando soluções, tomando decisões e pensando em possibilidades até quando não estamos conscientes da sua atividade.
Este órgão “sempre ativo” é tão dedicado que nunca descansa, nem tira férias. Mas os neurocientistas afirmam que ele também tem seus limites. Dormir é uma das formas que o cérebro tem de fazer uma limpeza depois de um dia inteiro, mas ele continua trabalhando. E o tédio também é importante para sua saúde.
Na Itália, as pessoas têm isso muito claro. A expressão il dolce far niente (“a doçura de não fazer nada”) faz parte da cultura do país, onde o descanso, o prazer de ficar sem fazer nada, é parte da vida.
Não se trata de fazer uma siesta, mas sim de algo mais profundo. Trata-se de deixar de lado o ritmo do dia a dia e dedicar um momento à introspecção, o relaxamento e a consciência de viver no momento presente.
Desperta a criatividade
A neurocientista Alicia Walf, pesquisadora do Departamento de Ciências Cognitivas do Instituto Politécnico Rensselaer, nos Estados Unidos, afirma que é fundamental para a saúde cerebral se deixar ficar entediado de vez em quando.
“O tédio melhora as conexões sociais. Os neurocientistas sociais concluíram que o cérebro tem uma rede de modo padrão que é ativada quando paramos de fazer coisas. Na verdade, o tédio pode fomentar ideias criativas, reabastecendo as reservas reduzidas e proporcionando um período de incubação para que surjam ideias de trabalho embrionárias”, explicou Walf à revista Forbes.
“Nesses momentos que podem parecer enfadonhos, vazios e desnecessários, as estratégias e soluções que estavam ali o tempo todo de forma embrionária ganham vida. E o cérebro obtém um descanso bastante necessário quando não o fazemos trabalhar demais.”
“Alguns escritores famosos já afirmaram que suas ideias mais criativas surgem quando estão mudando móveis de lugar, tomando banho ou arrancando ervas daninhas. Chamamos esses momentos de inspiração de insights”, ela acrescentou.
Em um estudo publicado na revista americana Academy of Management Discoveriesem 2019, pesquisadores deixaram um grupo de pessoas entediado com instruções para classificar feijões por cores. Já um outro grupo ficou incumbido de uma tarefa muito mais interessante.
Em seguida, pediram a eles que inventassem boas desculpas para justificar seu atraso. O grupo entediado se saiu melhor, tanto em quantidade de ideias quanto em criatividade, segundo a avaliação de um grupo externo.
Melhora a atenção
Da mesma forma que o sono é um momento importante e produtivo para o cérebro, o tempo de inatividade também é vital para nossa mente e nosso bem-estar.
A revista americana Scientific American publicou um longo artigo resumindo os benefícios do tempo de inatividade. “O tempo de inatividade repõe as reservas de atenção e motivação do cérebro, incentiva a produtividade e a criatividade e é essencial para atingir nossos níveis mais altos de rendimento e simplesmente formar recordações estáveis na vida cotidiana”, diz o artigo.
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