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Por Redação Rádio Pampa | 6 de agosto de 2023
Uma nova pesquisa se propõe a mapear a saúde mental da população brasileira e atualizar a cada semestre os ganhos e perdas relativos ao tema no País. O monitoramento será feito a partir do Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental (iCASM), criado pelo Instituto Cactus, entidade filantrópica ligada à promoção do bem-estar psíquico, junto à AtlasIntel, empresa especializada em pesquisas e dados.
Nesta primeira rodada, o indicador revela que a forte desigualdade que assola o Brasil em esferas como gênero, orientação sexual e renda são traduzidas no bem-estar psíquico, com destaque para quatro grupos populacionais que mais sofrem.
“Quando olhamos para o aspecto sociodemográfico, o que chama a atenção é que pessoas em busca de emprego, mulheres, jovens e LGBTs, especialmente pessoas trans, se destacam com índices mais baixos de saúde mental que a média”, diz Luciana Barrancos, gerente-executiva do Instituto Cactus.
Formulado a partir de entrevistas online com 2.248 brasileiros acima de 16 anos, de 746 cidades de todas as regiões do país, a média geral ficou em 635 pontos de uma escala que varia de 0 a 1000. Porém, pessoas desempregadas marcaram somente 494, abaixo da média e 186 pontos a menos do que os assalariados, que tiveram 680.
Em relação à faixa etária, jovens de 16 a 24 tiveram o pior desempenho, com somente 534 pontos. Bem distante dos idosos a partir de 60 anos, que marcaram 757. As mulheres também tiveram uma pontuação inferior, de 600, uma diferença negativa de 72 pontos em relação aos homens, que marcaram 672.
Já pessoas trans contabilizaram 445, uma das piores notas de todo o levantamento e quase 200 pontos a menos que pessoas cisgênero (que se identificam com o gênero ao qual foram atribuídas ao nascerem), que marcaram 638.
Os resultados também mostram um maior sofrimento entre pessoas com orientações sexuais diferentes da heterossexualidade: homossexuais, com 576 pontos; bissexuais, com 488; assexuais, com 485, e pansexuais, com 427 – todas pontuações inferiores à daqueles que se identificam como héteros, que marcaram 656.
“Estudos evidenciam que minorias sociais vivenciam estressores adicionais aos que já são esperados na vida por fazerem parte de grupos em condição de vulnerabilidade social, pelo preconceito, pelo estigma. Outro ponto importante é o impacto do aumento no custo de vida da população. O estresse financeiro afeta especialmente jovens, que entram no mercado de trabalho num momento em que tudo está mudando e a competitividade é global”, diz Ana Carolina Peuker, pós-doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e CEO da Bee Touch.
Em relação à raça, os resultados variaram de forma menos significativa. Indígenas marcaram o índice mais alto, com 663 pontos, seguidos por brancos, com 642; pardos, com 633; pretos, com 617, e amarelos, com 612.
Embasamento
Para os responsáveis pelo iCASM, o diferencial é que agora o país passa a ter um indicador para avaliar o tema, que poderá influenciar políticas públicas e ser utilizado ao longo dos semestres para monitorar as suas efetividades.
“Existe uma carência de dados a nível populacional sobre saúde mental no Brasil e no mundo. Temos muitos indícios de uma situação deteriorada, especialmente depois da pandemia, mas essa falta de um indicador dificulta. Quando falamos de crescimento econômico, temos índices como o PIB, a inflação. Mas saúde mental, que é um tema tão importante, carece de algo semelhante”, explica Andrei Roman, CEO da AtlasIntel.
Barrancos, do Instituto Cactus, cita que o Ministério da Saúde costumava publicar um levantamento chamado Saúde Mental e Dados que funcionava como um parâmetro. Porém, desde que foi interrompido, em 2015, há essa necessidade por novos dados – especialmente no momento em que o ministério criou o inédito Departamento de Saúde Mental.
“Há anúncios de investimentos na saúde mental para ampliação de rede, então temos sinalizações no sentido de mais atenção ao tema. Por isso, esperamos que os dados da pesquisa ajudem a direcionar melhor esses recursos, que são sempre limitados”, diz.
Nesse contexto, a psicanalista Rosana Onocko, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cita um retrocesso nos últimos anos e defende medidas como a intensificação de profissionais da área na atenção primária e a expansão dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), locais criados para substituir os hospitais psiquiátricos.
“Tínhamos até 2015 uma importante expansão dos Caps, que congelou, e os núcleos de apoio à saúde da família (NASFs), que eram equipes com pelo menos um profissional da saúde mental na atenção primária, foram desmontados. É preciso retomar a expansão dos Caps, atendendo às desigualdades regionais, já que temos áreas sem cobertura, e garantir que as novas equipes multiprofissionais (eMULTI), criadas neste ano para substituir os antigos NAFs, sejam implementadas de forma qualificada”, diz ela, que pesquisa o tema há 20 anos.
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