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Por Redação Rádio Pampa | 28 de novembro de 2022
Pressão dos prazos, exigência sobre a qualidade da pesquisa, malabarismos para colocar a leitura em dia e, em alguns casos, a necessidade de dividir a atenção com outros trabalhos. A vida do aluno de pós-graduação nunca foi fácil, mas a pandemia potencializou problemas de saúde mental entre esses estudantes, como mostra uma pesquisa feita pela Fiocruz.
O trabalho envolveu 5.985 alunos, das cinco regiões do País (51% no mestrado, 43% no doutorado e 6% na especialização). Seis em cada dez alunos relataram ansiedade e problemas para dormir. Já desmotivação e dificuldades de concentração são queixas de quase 80% dos pós-graduandos.
Segundo Roberta Pires Corrêa, autora da pesquisa e doutoranda em Ensino de Biociências e Saúde pela Fiocruz, os resultados evidenciaram a saúde mental como um desafio de saúde pública. Conforme aponta, os alunos e instituições precisaram se readequar ao novo momento, com aulas remotas e outras rotinas de trabalho, o que impactou no rendimento dos estudantes.
“Eles estavam produzindo seus trabalhos em uma crise que nunca tinham vivenciado antes, em que a maioria dos projetos foi alterada”, diz.
De acordo com o estudo, 80% dos alunos tiveram de alterar seus projetos de pesquisa – 9% mudaram completamente seus estudos, 35% fizeram alterações significativas e 37%, mudanças pequenas.
Muitas das instituições e agências de fomento flexibilizaram prazos de entrega de trabalhos ou conclusão de disciplinas, com o objetivo de não prejudicar os estudantes.
Mesmo com o abandono do isolamento social nos últimos meses, muitas universidades têm adotado modelos híbridos, que conciliam atividades remotas e presenciais. Somado ao cenário de acúmulo de trabalho, o período da pandemia ainda coincide com uma crise socioeconômica no País e restrições de orçamento para o setor.
Para aqueles que se dedicam exclusivamente aos estudos, o desafio econômico também pesa: as bolsas federais para mestrado e doutorado, por exemplo, são de R$ 1.500 e R$ 2.200, respectivamente, e não têm reajuste desde 2013.
Adaptação
“Nos seis primeiros meses tive muita dificuldade de lidar com os problemas que o cenário pandêmico causava”, diz João Paulo de Lucena Laet, de 26 anos. Durante o mestrado em Biociências e Biotecnologia em Saúde feito entre 2020 e 2021, ele lembra que tudo que tinha sido planejado inicialmente precisou ser alterado para conseguir se adaptar ao dia a dia de pesquisa em casa, pois não conseguia se concentrar.
Segundo a pesquisa, 45% dos alunos relatam que foram diagnosticados com ansiedade generalizada e 17% com depressão durante o primeiro ano da crise sanitária. “Na pandemia, eu me senti menos produtiva”, conta Katharina Cruz, de 24 anos.
“Tive conversas com o psiquiatra para entender momentos de pico de ansiedade que senti em diversos momentos desde 2020. Entendi que, apesar do tempo extra que ganhei, também era necessário que a mente estivesse em equilíbrio para fazer bom uso”, afirma o aluno de pós-graduação em Direito Digital Leone Carvalho, de 24 anos.
Acolhimento
Pesquisador do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos da Fiocruz, Paulo Soares Stephens, que também coordenou o estudo, diz ser fundamental a necessidade de acolhimento por parte das instituições. “Não que esse acolhimento não seja feito de maneira informal, mas precisamos de programas mais estruturados”, aponta.
Em nota, a presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), Cláudia Queda de Toledo, diz que a instituição vem implementando ações a fim de amenizar os efeitos da pandemia. “Foi autorizada a prorrogação do prazo das bolsas e do tempo para defesa de teses e dissertações, no sentido de amenizar os efeitos da pandemia”, aponta.
No Ar: Pampa Na Madrugada