Sábado, 26 de Outubro de 2024

Home Brasil Tragédia de Novo Hamburgo expõe leniência com CACs

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Na noite de terça-feira em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS), um caminhoneiro de 45 anos, depois de manter a própria família como refém, matou a tiros o pai, o irmão e um policial militar (outro PM morreu no hospital). Feriu ainda a mãe, a cunhada e outras seis vítimas. Segundo a Polícia Civil gaúcha, o atirador foi encontrado sem vida dentro de casa depois de confronto com o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Cinco baleados — entre eles dois policiais militares e um guarda municipal — permaneciam internados.

A motivação do crime ainda é investigada. Pelo que se sabe, o atirador abriu fogo contra os parentes e policiais depois de ser denunciado pelo pai por maus-tratos. Todas as tentativas de negociação foram frustradas, e ele ainda derrubou dois drones usados pela polícia durante o cerco, que durou mais de nove horas.

O massacre expõe de forma contundente o equívoco de permitir que cidadãos mantenham em casa arsenais com grande poder de destruição. E também as falhas do governo ao fiscalizar as autorizações que emite para compra, porte e guarda de armamentos. O caminhoneiro usou armas legalizadas que mantinha em casa graças a um certificado de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) fornecido pelo Exército. Foram encontradas no local duas pistolas e duas carabinas. Todo o armamento era legal.

Segundo investigações preliminares, ele não tinha antecedentes criminais, mas em seu nome consta um boletim de ocorrência por ameaça. Em seu quarto havia água estocada e grande quantidade de munição. De acordo com a polícia, ele havia sido internado quatro vezes devido a um quadro de esquizofrenia.

Fica claro o descontrole na autorização para os CACs. As condições psiquiátricas não recomendavam que alguém com tal perfil fosse autorizado a ter armas ou praticar tiro desportivo. Agora, depois do crime, será apurado como obteve o certificado, concedido em 2020. Os investigadores afirmam que, na época, apresentou todos os laudos exigidos. Mais uma demonstração de que a fiscalização é falha. Não será surpresa se existirem outros casos semelhantes.

O país precisa urgentemente reduzir o arsenal em poder dos CACs. Entre 2018 e 2022, no governo Jair Bolsonaro, os registros cresceram 187%. Estima-se que mais de 1 milhão de armas estejam nas mãos de atiradores amadores. É verdade que o governo Lula suspendeu a concessão de novos registros e determinou que os atuais passem por recadastramento. Mas não se pode ignorar que um arsenal poderoso continua em circulação.

É ingenuidade imaginar que essas armas estejam bem guardadas e sejam usadas apenas de acordo com a lei. Não são raras apreensões, com traficantes e milicianos, de armas compradas legalmente por CACs. Algumas vão parar nas mãos de criminosos depois de roubadas, furtadas ou extraviadas. Outras são desviadas deliberadamente por bandidos travestidos de CACs, que se beneficiam do controle frouxo. É uma lástima que o próprio Estado chancele a compra de armas que abastecem a criminalidade ou se prestam a tragédias como a de Novo Hamburgo. É preciso dar um basta a essa barbárie. (Opinião/O Globo)

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