Segunda-feira, 27 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 26 de janeiro de 2025
Para Juan Gabriel Tokatlian, doutor em relações internacionais pela Universidade Johns Hopkins de Washington, nos Estados Unidos, Donald Trump retorna à Casa Branca com uma lista de assuntos pendentes em suas relações com a América Latina.
“Trump chega frustrado com a América Latina pelo que não conseguiu no seu primeiro mandato”, declarou o ex-reitor e atual professor da Universidade Torcuato Di Tella, de Buenos Aires, na Argentina.
“Acredito que iremos observar esta mistura de desinteresse e fúria pela América Latina representada nas suas primeiras ações [no governo]”, declarou o reconhecido analista e pesquisador argentino.
Tokatlian acaba de publicar seu livro Consejos No Solicitados sobre Política Internacional (“Conselhos não solicitados sobre política internacional”, em tradução livre), que reúne suas conversas com a jornalista Hinde Pomeraniec.
A obra analisa as relações de Trump com o México, o posicionamento de Washington frente a Nicolás Maduro e o vínculo com a China na sua disputa pela influência na América Latina.
Confira abaixo partes da entrevista.
Como o sr. analisa esta nova etapa nas relações entre os Estados Unidos e a América Latina?
Juan Gabriel Tokatlian – Se fizermos uma análise histórica dos discursos de posse dos presidentes dos Estados Unidos no último século, o papel da América Latina na mensagem de Trump na segunda-feira [20/1] é incomum.
Trump não mencionou nenhum país ou região, a não ser por dois anúncios vinculados à América Latina: a fronteira sul dos Estados Unidos e o Canal do Panamá.
Ele quis mostrar que estava voltando com força frente à região, mas seu discurso apresentou um paradoxo. Para Trump, os Estados Unidos enfrentam um estado calamitoso, uma espécie de impotência, que ele resolve de forma totalmente prepotente.
Ele afirma que irá recuperar os Estados Unidos, mas parte da mesma debilidade exposta por ele próprio.
O sr. escreveu que, com o regresso de Trump, observamos a volta da Doutrina Monroe, “a América para os americanos”. A disputa pela América Latina agora é com a China, no lugar da Europa?
Tokatlian – Trump retoma a Doutrina Monroe, mas com um detalhe.
Quando os Estados Unidos instrumentalizaram esta ideia, seu objetivo era evitar militarmente a expansão da Europa rumo às suas ex-colônias. O desafio era militar.
Agora, no caso da influência da China, não existe nenhuma expansão militar chinesa. Na verdade, o que observamos é um participante que ingressa e se projeta na América Latina, com recursos, investimentos, assistência e presença.
Por isso, se Trump quiser aplicar à China uma nova versão da Doutrina Monroe, como não há uma ameaça militar direta de Pequim, ele enfrenta um “dilema de recursos e compromissos”.
Mas os americanos exigem compromissos sem oferecer recursos. Eles querem que os países da América Latina os sigam sem que eles coloquem um dólar, o que é um equívoco absoluto e pode causar muitos danos.
À medida que aumentar a disparidade entre poucos recursos e mais compromissos, Washington irá aumentar as retaliações, recorrendo mais à ameaça da força e jogando no limite da chantagem.
A reivindicação do Canal do Panamá por Trump vai nesta direção?
Tokatlian – Sim, mas o que Trump diz sobre o papel da China no Canal do Panamá é falso.
Trump afirma que um dos terminais no Pacífico e outro no Atlântico são controlados por uma empresa chinesa. Mas os dois outros grandes terminais são operados por capital ocidental. Ou seja, o canal não está sob o controle da China.
Além disso, os Estados Unidos nunca tiveram problemas com o Panamá a este respeito. Mais de 40% das suas exportações para a Ásia cruzam o canal, que sempre funcionou e operou sem nenhuma dificuldade.
É preciso recordar que o Panamá mantinha relações diplomáticas com Taiwan até o ano de 2017, quando decidiu rompê-las para estabelecer relações com a República Popular da China. Esta foi uma mudança muito importante do ponto de vista de Washington.
Isso significa que o canal foi dominado pelos chineses? Não. Isso quer dizer que Washington deveria ter feito muito mais para recuperar sua influência e projeção no Panamá. As informações são do portal G1.
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