Segunda-feira, 30 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 8 de dezembro de 2024
Ser feliz é sobre desfrutar pequenos momentos e, sobretudo, aprender a curtir cada fase da vida. E elas são muitas. E elas são intensas. E elas são absurdamente diferentes umas das outras.
Se a sua vida inclui filhos, essa verdade é elevada à máxima potência. As crianças não apenas são a materialização da passagem do tempo, como também são responsáveis por nos ensinar – e nos jogar, sem dó nem piedade, à realidade do desenvolvimento de um ser humano pelo prisma do próprio desenvolvedor. É quase como provar do próprio veneno, só que de forma instrutiva. Instrutiva ao adulto – no caso, você.
Se o bebê nasce e nos encanta com sua inocência e dependência, o desenrolar dos anos nos fascina com a capacidade de aprendizado intelectual e social. Sou absolutamente apaixonada por observar os pequenos detalhes que são absorvidos, os insights dos pequenos cérebros em crescimento. E, principalmente, pelo quanto a dependência antes existente para garantir a sobrevivência se torna uma linda parceria e um sentimento real de companheirismo e amor mútuos.
Mas o tempo é incontornável – e é desejável crescer, claro. Só que há um pedágio no caminho: a adolescência.
O meu mapa da vida mostra que estou nesse momento da jornada, iniciando um trecho de extrema intensidade, com muitos percalços e um turbilhão de emoções. Estou acumulando o combustível da paciência e reforçando os estoques de limites, porque a coisa aqui está ficando séria.
Já viramos a curva dos 12 anos. Finalizamos a infância de um dos nossos filhos, portanto. Com êxito, sem dúvida. Foi uma infância linda, repleta de carinho, incentivos, aventuras. Foram anos nem sempre fáceis, mas sempre, sempre recheados de amor.
Toda a trajetória, contudo, não nos preparou para o que vinha pela frente. De repente, não mais que de repente, nosso filho passou a nos achar “um saco”. Somos tediosos, desinteressantes e absurdamente chatos. Sentimo-nos velhos, do alto da juventude dos nossos 45 anos. Somos pais de um ser que passou a ter opinião própria e interesses diversos. Uma pessoa que busca, enfim, a sua própria vida. Um ser humano normal. Affffff, coração de mãe quase arrebenta!
Mas o mau humor é tão constante e os chiliques são frequentes, que acabam por me fazer torcer para que cresça de uma vez! E é aí, nesse instante, que eu me pego pensando na beleza que é a vida!
A natureza é tão sábia que até isso é bem pensado. O adolescente é chato para que os pais rompam com o ciclo (aparentemente infinito) de “lamber a cria”. É uma forma de a própria natureza nos fazer impulsionar o crescimento dos filhos – porque eles se tornam, de fato, bastante insuportáveis. E isso é bom! Eles precisam criar asas e voar! Eles têm que ir.
Nossos filhos não são “nossos”, por mais que assim o queiramos. Eles são do mundo. A nós, pais, cabe criar um elo forte e bonito o suficiente para que essa relação seja eterna. Para que, mesmo depois de seguirem seus rumos, eles encontrem o caminho de casa porque, aqui, sabem que foram amados. Até mesmo na adolescência. E que assim o serão, sempre, não importa o que aconteça.
E é o tempo o senhor de toda a sabedoria do mundo. Ele vem para nos brindar com a compreensão do que realmente importa. Só que isso, senhores, vocês sabem: só vem bem, bem depois. Hoje, quando estou com meus pais, o meu sentimento não é apenas de paz, mas de intensa gratidão. Eles me amam de verdade. Eles me aguentaram, mesmo insuportável. Eles me educaram e me amaram e fizeram o melhor possível. E, principalmente, deixaram a estrada pavimentada para que eu possa ir e vir a qualquer tempo, serelepe e feliz. Eles se frustraram com muitas expectativas, mas jamais o demonstraram. Eles apenas estão lá, sendo meus pais.
Apenas sendo pais? Não. Isso é tudo que alguém pode ter. Aquele “nada” que te faz inteiro. Mais do que isso, eles agora são avós, e me amam dupla, triplamente, a ponto de me permitirem ir e vir por essa estrada carregando meus filhos (os netos) juntos. Porque a vida, afinal, é sobre isso: viver cada fase como se fosse a última. Porque assim será. Portanto, use sem moderação. A vida tá aí para ser vivida, afinal.
@ali.klemt
No Ar: Show de Notícias