Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2025

Home em foco Turbulência entre governo e militares mostra que o 8 de Janeiro não acabou

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Não há dúvida: a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, deram a Lula uma oportunidade de ouro para pacificar o país. Depois de vencer Jair Bolsonaro pela menor margem de votos desde a redemocratização e assumir o cargo acossado pela polarização, o presidente convenceu algumas das principais autoridades nacionais, inclusive integrantes da oposição, a deixarem as diferenças de lado e unirem forças para repudiar as agressões dos radicais e defender a democracia brasileira, que esteve ameaçada. Desde então, Lula usa o caso como trunfo, alegando ser um autêntico republicano, diferentemente de seu antecessor, chamado de golpista e entusiasta da ditadura. A estratégia faz sentido.

Segundo pesquisa Genial/Quaest, 86% dos entrevistados desaprovam o vandalismo ocorrido na Praça dos Três Poderes. É por isso que Lula faz questão de, sempre que pode, explorar politicamente o tema.

Foi o que ocorreu na quarta-feira (8), na solenidade realizada no Palácio do Planalto para lembrar os dois anos da quebradeira promovida por extremistas bolsonaristas. Diante de uma plateia formada principalmente por aliados e subordinados, Lula, agora com uma nova equipe de comunicação, pegou carona no filme “Ainda Estou Aqui” que rendeu um Globo de Ouro à atriz Fernanda Torres e parte do sumiço e assassinato do ex-deputado Rubens Paiva pela repressão, em 1971 para exaltar seu governo e as instituições e, na outra ponta, desgastar Bolsonaro, que, apesar de inelegível, continua como seu mais poderoso rival.

“Hoje é dia de dizer, em alto e bom som, ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos, que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas de 8 janeiro de 2023”, disse o presidente ao iniciar a leitura de seu discurso. “Estamos aqui para dizer em alto e bom som ditadura nunca mais. Estamos aqui para lembrar que, se estamos aquí, é porque a democracia venceu”, acrescentou. A plateia aplaudiu com entusiasmo, mas Lula não conseguiu colher todos os dividendos que gostaria com a cerimônia.

Apesar do aparente clima de tranquilidade, a véspera da solenidade foi marcada por momentos de tensão. Representantes das cúpulas militares reclamaram de ter de participar, mais uma vez, de um ato com forte componente político, pensado para servir de palanque para Lula e organizado pela primeira-dama Rosângela da Silva, que até hoje não aceita ter sua segurança direta feita por militares. Eles também consideraram a iniciativa inoportuna por ser capaz de desfazer o duro trabalho de aproximação entre a caserna e o governo petista, cuja relação nunca teve a confiança como marca principal.

Em meio às investigações que apuram o envolvimento de militares da ativa e da reserva no planejamento dos inaceitáveis ataques com o objetivo de anular a vitória de Lula, havia o temor de que os chefes das Forças fossem submetidos a constrangimentos e vaiados pela militância. Logo no início da cerimônia, houve um grito isolado de “Fora, militares golpistas”, mas a bordoada civil não ganhou adesão.

O presidente, que sabia do mal-estar, intercalou um afago e uma cutucada em seu discurso. Logo na abertura, ele agradeceu ao ministro da Defesa, José Múcio, que já manifestou ao chefe a vontade de deixar o governo, por ter levado os comandantes, os quais mostrariam que é possível ter as Forças Armadas “com o propósito de defender a nossa soberania nacional”.

Mais à frente, porém, Lula fez questão de mencionar o planejamento feito por “um bando de aloprados” – todos militares, segundo as investigações em curso no STF – para assassinar o presidente, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, em postura cômica, não fosse trágica e criminosa.

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