Quarta-feira, 30 de Outubro de 2024

Home Mundo Um cargo de alto risco na Venezuela: cinco dos oito ministros do Petróleo nos últimos dez anos acabaram foragidos ou presos

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Dos oito ministros do Petróleo da Venezuela nos últimos dez anos, cinco acabaram foragidos ou presos, em meio a escândalos de corrupção e acusações de traição e conspiração no governo do presidente Nicolás Maduro. Além disso, quatro sindicalistas do setor foram assassinados entre 2015 e 2020, conforme relatório produzido por uma ONG.

A última cabeça a passar pela guilhotina foi a de Pedro Tellechea, que chefiou a pasta até agosto, além de presidir a estatal do setor no país, a PDVSA. Ele foi preso há uma semana, acusado de entregar “o cérebro” – o sistema automatizado – da companhia a uma empresa “controlada pelos serviços de inteligência” dos Estados Unidos, eterno inimigo do regime chavista.

Homem de confiança de Hugo Chávez, Rafael Ramírez foi o primeiro ministro do Petróleo quando Maduro chegou ao poder em 2013. Ocupava o cargo desde 2002 e era presidente da PDVSA desde 2004. Era o “todo-poderoso” no governo do falecido Hugo Chávez (1999-2013), que lhe deu o controle absoluto da indústria após uma greve entre dezembro de 2002 e março de 2003 que buscava sua queda.

“A PDVSA é uma caixa preta”, criticou à agência de notícias AFP Iván Freites, sindicalista exilado nos Estados Unidos, ao questionar a falta de transparência. “Não há fiscalização, ninguém se atreve a denunciar e quem ousa está morto, exilado ou preso.”

Filho de um cafeicultor que financiou guerrilhas comunistas na década de 1960 e sobrinho de Carlos Illich Ramírez, “El Chacal” (preso na França por terrorismo), Ramírez deixou o cargo para ser chanceler e embaixador na ONU, antes de romper com Maduro e se tornar seu crítico ferrenho. Ele entrou na mira da justiça quando dois homens de seu círculo e herdeiros do ministério e da presidência da PDVSA foram presos: Eulogio Del Pino e Nelson Martínez.

O Ministério Público responsabilizou Ramírez por esquemas de corrupção que custaram ao país cerca de 45 bilhões de dólares (256 bilhões de reais). Ele está foragido na Itália, enquanto Del Pino continua preso e Martínez morreu na prisão.

“Czar de Maduro”

Tareck El Aissami assumiu o cargo em 2020 prometendo “limpar” a PDVSA após os casos de corrupção da era Ramírez. Era um homem do círculo mais próximo de Maduro, de quem foi vice-presidente.

“Tínhamos corruptos e traidores ao nosso lado” e “nem sequer passou pela minha cabeça que eles pudessem me trair”, disse o presidente depois que novas investigações sobre corrupção na PDVSA tiraram El Aissami no ano passado.

Ele havia sucedido um militar como ministro do Petróleo, o general Manuel Quevedo, responsável pela pasta entre 2017 e 2020. Quevedo está fora das investigações do Ministério Público, assim como Asdrúbal Chávez, parente de Hugo Chávez que ocupou o cargo de 2014 a 2016.

Fotos de El Aissami algemado ao lado de policiais encapuzados ilustram seu fracasso, acusado de desviar receitas da venda de petróleo bruto através de criptomoedas, uma tentativa frustrada de escapar das sanções impostas pelos Estados Unidos. O desvio, segundo estimativas, ultrapassou 17 bilhões de dólares (R$ 96 bilhões). Freites acredita que a falta de fiscalização levou “organizações criminosas” a dominar o setor.

“Agente da CIA”

Após a prisão de El Aissami, Tellechea assumiu a pasta em março de 2023 com a promessa de “sanear” as contas. Já era presidente da PDVSA desde janeiro daquele ano.

Agora, o coronel de 48 anos é acusado de vazar informações para a CIA. A promotoria informou nesta segunda-feira sua prisão e de “colaboradores mais próximos”, sem fornecer outros nomes.

Elogiado por Maduro pelo aumento da produção de petróleo bruto, com licenças americanas para transnacionais como Chevron e Repsol operarem no país, Tellechea deixou o cargo em agosto para assumir o Ministério da Indústria. Ele foi substituído pela poderosa vice-presidente Delcy Rodríguez.

“Já alavancou a PDVSA e temos que seguir à recuperação do parque industrial”, disse Maduro ao nomeá-lo para o novo cargo, no qual permaneceu até três dias antes da sua prisão.

O cargo passou para o empresário colombiano Alex Saab, acusado de ser “testa de ferro” do presidente, e Tellechea disse que renunciava por problemas de saúde. Sua prisão ocorre em meio ao agravamento da crise política no país, após acusações de fraude na reeleição de Maduro.

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