Sábado, 21 de Dezembro de 2024

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Do legado calamitoso do governo Jair Bolsonaro muito ainda se ocuparão. Mas não será difícil apontar a polêmica das urnas eletrônicas como um dos seus despautérios, uma das suas heranças mais devastadoras.

O Brasil levou tempo para implementar as urnas eletrônicas. Elas começaram a ser utilizadas em 1996 e chegaram até a eleição de 2020 incólumes, isto é, com queixas residuais, breves reclamações e raras críticas. Com elas, tal como existem, com pouquíssimas mudanças de aprimoramento e melhoria, se elegeram presidentes, senadores, governadores, deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores.

Foram mais de 20 anos de eleições limpas. Nem mesmo o habitual choro de perdedor se fez ouvir. Na teoria e na prática se firmou a jurisprudência de que o sistema é seguro, confiável, à prova de fraudes.

Em mais de 20 anos não se ouviu dizer de nenhum cargo eletivo, em eleição de qualquer nível, que tenha sofrido uma só – um só vereador de grotão que fosse – mudança na lista dos eleitos tendo por motivo um desvio de voto, uma fraude. Como duvidar de um sistema assim impermeável ao erro, à manipulação criminosa?

Estranhamente, o ruído, a celeuma veio de um vencedor, o presidente Jair Bolsonaro. O comum, nas acusações de fraude eleitoral, é que eles partam dos perdedores. O caso brasileiro é singular porque a reclamação veio do vitorioso. Segundo ele, sem a suposta fraude, ele teria vencido no primeiro turno.

E que provas ele apresenta para tão grave incriminação? Nenhuma. São alegações que parecem ter origem em elaboradas teorias conspiratórias, mais do que em ocorrências reais. Para haver fraude desse porte, seria preciso contar com milhares de cúmplices, espalhados nos cartórios e juízos eleitorais, nos tribunais regionais de cada estado, no Tribunal Superior Eleitoral.

Milhares de secretários de mesas eleitorais e mesários teriam de estar em conluio. Milhares de fiscais partidários que atuam nas sessões eleitorais e nas áreas de totalização de votos, precisariam estar dormindo para que houvesse um único e miserável desvio. Milhões de concidadãos brasileiros, civis, militares e eclesiásticos, teriam de ter sido abduzidos para a tramoia portentosa.

De que baú misterioso Bolsonaro e sua trupe tiraram a ideia de fraude ninguém – nem mesmo eles – sabem determinar. O fato lamentável é que todo um sistema sobre o qual não pairava suspeita, de repente, do nada, se transformou em usina de fraudes capaz de inverter o resultado até mesmo uma eleição presidencial.

Pior: o presidente chamou a cavalaria para ajudar no processo de desmoralização. O Partido Militar, agora arvorado em especialista da área, quer ir além de onde lhe permitem os chinelos – as forças armadas não existem para isso e nem possuem a necessária capacidade técnica.

Por trás disso tudo não tem como existirem bons propósitos. O que está em marcha é um pretexto raso, vulgar, para melar o pleito, caso ele não tenha o resultado que eles esperam.

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