Domingo, 05 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 2 de janeiro de 2025
Sob o efeito de juros mais altos, condições financeiras desfavoráveis e menores estímulos fiscais, a economia deve desacelerar em 2025, mesmo com a expectativa de nova safra agrícola recorde. Pela força do agro e pela “herança estatística” de 2024, o crescimento de 2025 deve ficar concentrado na primeira metade do ano, sobretudo no primeiro trimestre, enquanto, para o restante do ano, economistas não descartam até um quadro de recessão técnica, isto é, dois trimestres seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB).
Consultorias e instituições financeiras projetam que o PIB deve crescer 2% em 2025, após alta estimada de 3,5% em 2024. As previsões variam de 3% a 3,6% para este ano e de 13% a 3% para o próximo. Na proposta de Orçamento de 2025, o governo trabalha com um crescimento real de 2,64% para o ano
Na teoria, o ponto de partida de 2025 não seria ruim. Com o resultado do PIB até o terceiro trimestre deste ano, o carregamento estatístico para 2025 está em 0,8% – ou seja, se a atividade ficar estagnada ao longo de todos os trimestres seguintes e até o fim de 2025, o PIB ainda subiria 0,8% no ano que vem.
“A taxa de desemprego é baixa, o setor agropecuário deve vir bem forte. Mas o ponto de chegada, ao fim do ano que vem, pode ser ruim. A atividade tem sido mais resiliente, mas acredito que, em 2025, será bem mais difícil obter um crescimento perto de 3%, como vimos nos últimos anos”, diz César Garritano, economista-chefe da Somma Investimentos, que projeta alta do PIB em 2025 de 1,9%, perto da mediana.
“Com esse choque de juros, fazendo [alta da Selic] mais e mais rápido, imaginamos que a atividade não vai ser tão pujante em 2025”, diz Leonardo Costa, economista do ASA. Ele tem projeção de PIB abaixo do consenso para 2025, de 1,5%, com a desaceleração acontecendo ao longo dos trimestres até chegar perto de zero no fim do ano. Para o encerramento de 2024, a expectativa é de uma alta do PIB ao redor de 0,5% no quarto trimestre, ante o terceiro, o que ainda seria forte, segundo Costa.
Apesar do carregamento estatístico alto de 2024 para 2025, os impulsos para a economia no ano que vem “não são bons”, diz Garritano, que não descarta “algumas variações zero ou negativas” do PIB no decorrer do segundo semestre.
“Nas variações trimestrais, há muita discussão de ajuste sazonal e, por isso, prefiro a comparação entre iguais períodos no ano contra ano. Mas as estimativas mostram que não dá para excluir a hipótese de recessão técnica”, afirma, em referência à possibilidade de dois trimestres seguidos de queda do PIB.
O Bradesco, por exemplo, antecipa duas quedas de 0,3% do PIB na segunda metade do próximo ano, após um forte desempenho da economia esperado para o primeiro semestre de 2025. Em 2024, houve um espraiamento “bastante interessante” de crescimento do PIB, diz Garritano. Isso aconteceu, segundo ele, tanto do lado da oferta quanto do lado da demanda, à exceção do desempenho mais desfavorável da agropecuária, após registrar safra recorde no ano anterior.
Nesse sentido, economistas dizem que 2025 deve ser mais parecido com 2023, com o agro apresentando ótima performance e a possibilidade de a safra superar os níveis de 2023. “Mesmo em 2024, com todas as adversidades do clima, vimos o setor agro mostrar resiliência, algo que é estrutural. Isso, ao lado da expectativa de condições climáticas melhores,
Assim como em 2023, o crescimento do agro em 2025, da sua renda e dos demais setores que ele mobiliza podem resultar em “transbordamentos” para o resto da economia, diz Garritano. Ainda assim, os rumos dos setores mais cíclicos, como serviços e indústria, que ajudaram a puxar o PIB em 2024, trazem um viés mais pessimista, segundo Garritano, diante do aperto monetário retomado pelo Banco Central em 2024 e já prometido para continuar, pelo menos, até o início de 2025.
“Nos dois casos, ainda que os dados antecedentes de confiança não indiquem uma desaceleração abrupta, prevemos um desempenho mais fraco, principalmente no segundo semestre de 2025. Eles podem crescer abaixo do que é o potencial da economia e podem retrair um pouco mais o PIB”, diz Garritano, projetando crescimento de 1,5% para cada em 2025, após altas esperadas em 2024 de 3,6% para serviços e de 3,5% para a indústria – Garritano estima o PIB potencial ao redor de 2,3%.
No Ar: Pampa Na Madrugada