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Por Redação Rádio Pampa | 25 de agosto de 2022
A bordo do trem Hamburgo-Westerland, Alemanha, Bärbel Hell, que normalmente não anda de trem, ficou feliz ao descobrir que o grandalhão regional azul e branco em que embarcara aquele dia, no início da tarde, não estava muito cheio. Mesmo sendo verão, e ainda que a linha em que se encontrava ligue Hamburgo, segunda maior cidade da Alemanha, à ilha de Sylt, resort mais exclusivo do país, o vagão estava relativamente vazio: “Foi superfácil, encontramos lugar para sentar logo de cara.” Ela, que voltava de uma viagem de compras em julho com as amigas, já tinha se preparado para coisa muito pior – não só por ser alta temporada de férias como por conta do programa de desconto especial oferecido pela empresa férrea nacional, em relação ao qual muita gente se mostrava cética.
Com o objetivo de compensar a pressão inflacionária sobre tantos outros itens essenciais do dia a dia, principalmente a energia, o governo está subsidiando um passe que, por apenas nove euros ao mês, ou US$ 9,30, garante ao usuário uso ilimitado.
“Acho que ajuda bastante. Dá às pessoas a chance de sair. Afinal, quem é que consegue bancar os preços da gasolina hoje em dia?”, questiona a aposentada de 67 anos.
Apesar do apelo do preço baixo, muitos usuários regulares do sistema ferroviário, que há tempos têm de lidar com atrasos, cancelamentos e vagões superlotados, temiam o efeito esperado da promoção. Embora prometesse tornar as viagens muito mais acessíveis, colocando centenas de euros de volta no bolso do usuário comum, também ameaçava ser um peso que poderia falir um sistema que já operava no limite – tanto que, antes mesmo que os passes fossem validados, os tabloides já previam o “caos dos nove euros” em suas manchetes. Até agora, porém, dois meses e meio depois do início do experimento, mostrou ser algo que anda bem raro hoje em dia: uma surpresa ligeiramente agradável.
Embora 25% da população alemã tenham comprado a ideia durante o primeiro mês, o aumento provou ser menos problemático do que se imaginava. Mesmo com a superlotação ocasional, a promoção se tornou popular: segundo uma enquete recente promovida pela revista Der Spiegel, 55% dos alemães são a favor da extensão do programa, com 34% contra.
“É uma das melhores coisas que o governo criou nos últimos anos, eu diria até nas últimas décadas”, disse Felix Lobrecht, famoso comediante e observador social que admitiu recentemente, em um podcast, preferir andar na própria Mercedes a usar o trem.
Mesmo assim, os passageiros frequentes da linha entre Hamburgo e Westerland, principal cidade de Sylt, não estavam preparados para declarar o plano um sucesso retumbante, tampouco perdoar alguns dos deslizes passados da rede ferroviária nacional.
“Deu para perceber um aumento bem definido no aumento de passageiros”, confirmou Matthias Carstensen, de 27 anos, a caminho do trabalho no único McDonald’s da ilha situada no Mar do Norte, a cerca de seis quilômetros e meio do continente, ao qual é ligada por uma via férrea elevada.
Mas, para ele, que há pelo menos uma década usa o meio de transporte para ir para os vários empregos que teve durante esse tempo, o grande problema são os atrasos que já afetavam o sistema desde muito antes da introdução do passe: “Ultimamente, tem sido pior”.
Nos últimos dois anos, o número de trens que chegam no horário despencou: em 2020 eram quase 90%, mas hoje pouco menos de 66% chegam às plataformas na hora certa. Os cancelamentos também aumentaram. Os grandes vilões são a infraestrutura envelhecida e o aumento na procura pelo serviço. Já antes da promoção de verão, os três mil quilômetros de trilhos mais usados pelos trens de passageiros operavam em 125% da capacidade.
O passe de nove euros – cortesia de um subsídio federal de dois bilhões e meio de euros – foi criado como resposta à forte alta nos custos da energia, causada em parte pela invasão russa da Ucrânia. Mas, apesar da natureza temporária, a promoção acabou fazendo parte de um debate mais amplo sobre como tornar a sociedade alemã mais sustentável e menos dependente do petróleo russo mediante políticas que incluem o estímulo ao uso do transporte público.
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