Sábado, 23 de Novembro de 2024

Home Cinema Vida da juíza Patrícia Acioli vai ser contada em filme com detalhes sobre a trajetória pessoal e profissional da magistrada assassinada em 2011

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Pouco antes da meia-noite de 11 de agosto de 2011, o farol do carro da juíza Patrícia Acioli, então titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, indicava que ela estava chegando em casa, no Tibau, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói (RJ).

Escondidos atrás de outro veículo, policiais militares correram em sua direção e dispararam mais de 30 vezes, lhe acertando 21 tiros e matando a magistrada na hora. Uma década após o crime, a cena se repetiu no local: dessa vez, atores a reproduziram para o longa-metragem documentário “Patrícia Acioli, a juíza do povo”, previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano.

De acordo com o jornalista Humberto Nascimento, primo da magistrada e que assina a direção e o roteiro da produção, o filme traz detalhes da vida pessoal, familiar e profissional de Patrícia Acioli, além dos bastidores da investigação que culminou na condenação de 11 PMs do 7º BPM (São Gonçalo) pelo crime. Nove deles já foram expulsos, mas o tenente-coronel Claudio Oliveira, mandante do homicídio, e o tenente Daniel Benitez, um dos atiradores, permanecem nos quadros da corporação até hoje.

“À época do crime, muito se falou do perfil linha dura da juíza, com mão pesada nos tribunais, mas a história da Patrícia vai muito além disso: é muito rica em coragem, generosidade e desprendimento. No trabalho, por exemplo, ela ouvia as vítimas com atenção, visitava cenas dos crimes para tirar eventuais dúvidas, fazia palestra para policiais no batalhão, ajudou a reduzir o número de mortes violentas na cidade. Só quem conviveu com ela sabe o exato tamanho que ela tinha e como deveria ser lembrada”, conta Humberto.

Filha de bancários, Patrícia Acioli é a mais velha de três irmãs que cresceram em uma família classe média de Icaraí, na Zona Sul de Niterói, Região Metropolitana do Rio. Cursou Direito na UERJ e logo depois, em 1988, foi aprovada em terceiro lugar para a primeira turma da Defensoria Pública, onde trabalhou na Vara da Infância e Adolescência. Cinco anos mais tarde, passou no concurso da magistratura.

Na ocasião da execução, Patrícia trabalhava havia dez anos na 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, uma das cidades mais violentas do estado. Na comarca, a magistrada mandou prender mais de 60 policiais militares do 7º BPM, muitos deles por participar e forjar os chamados autos de resistência – morte de suspeito em confronto – para justificar homicídios em comunidades dominadas por traficantes de drogas, prática comum na região.

Patrícia Acioli deixou duas filhas e um enteado – uma cursa Medicina e os outros dois também optaram pelo Direito. Desde o crime, sua mãe teve agravado o quadro de Alzheimer, assim como a irmã mais nova:

“Nosso objetivo é resgatar o lado humano dela, totalmente desapegado de bens materiais, e voltado para os Direitos Humanos na sua essência: tirava dinheiro do próprio bolso para ajudar menores infratores, chegando a acolher alguns deles dentro de casa quando era recém-casada, pagava escola e faculdade para os seguranças, e principalmente, doava seu tempo ao próximo.”

Entre os que participaram das gravações, além de familiares e amigos, estão o delegado Celso Gustavo Castelo Ribeiro, que investigou o assassinato da magistrada; os promotores Leandro Navega e Paulo Roberto Mello Cunha Júnior; a juíza Nearis Arce, titular da 3ª Vara Criminal de Niterói; o criminalista Técio Lins e Silva, que representou a família de Patrícia; José Mariano Beltrame, que era secretário de Segurança na época do crime; além de João Luís Silva e Cristiano Silva, ex-detentos da 73º DP (Neves), carceragem que ela fiscalizava.

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